Encontro com professores
Introdução
De um modo geral, uma das grandes dificuldades
apontadas pelos professores no exercício da sua atividade encontra-se
diretamente ligada à indisciplina na sala de aula. Este parece ser um desafio
transversal, atingindo os professores principiantes na carreira, como os mais
experientes
Tal leva a uma reflexão sobre um conjunto de
estratégias e competências profissionais diretamente ligadas à gestão da sala
de aula que os ajude, professores, no desempenho do seu papel.
Antes de mais, existirá uma procura e apelo a um
trabalho conjunto, através da partilha de saberes e experiências entre
psicólogos e professores, visando contribuir para o nosso desenvolvimento
profissional e motivação e, deste modo, conseguir resultados positivos no comportamento
e aprendizagem dos alunos.
É mais fácil para um aluno disruptivo “reinar”
quando os professores trabalham em separado, do que quando trabalham em
conjunto. Deste modo, uma coerência e firmeza comum na aplicação das regras
face à indisciplina da aula combate a confusão por parte dos alunos e evita
que, paralelamente, se tornem mais indisciplinados.
Funções e finalidades
dos “desvios às regras”
A razão dos comportamentos disruptivos são sempre
variadas, e a leitura dos mesmos só se pode realizar tendo em conta múltiplos
aspectos, como a ação ou a situação vivida no momento do incidente, a história
relacional da turma ou do aluno com determinado professor, o período do dia ou
do ano letivo, entre muitos outros fatores (Amado & Freire, 2002).
Segundo Kauffman (in Lopes &
Rutheford) “ a característica marcante em crianças com perturbações do
comportamento é a confusão. Confusão sobre quem são, sobre o que se espera
delas, onde pertencem no meio social que é a escola e sobre como poderão obter
a gratificação que muitas outras parecem obter tão facilmente. São,
habitualmente, crianças com poucas habilidades sociais, e com fracas
capacidades de resolução de problemas. Estas lacunas, com facilidade, são
transportadas para a relação com os professores e, frequentemente, geram menos
suporte por parte dos mesmos.
Em contexto de sala de aula, as causas destes
comportamentos podem estar ligados a diversos fatores (quer de ordem
psicológica, psicossocial ou pedagógica). Não sendo o nosso intuito abordar de
um modo profundo a origem destas atitudes, importa igualmente salientar que, em
dado momento, a maioria das crianças apresenta um ou outro comportamento
disruptivo, o que leva à difícil definição de aluno perturbador.
Definição de aluno
perturbador
Esta não é, sem dúvida, uma definição fácil e,
provavelmente, cada um de nós possuirá uma ideia própria sobre o que é uma
criança perturbadora em sala de aula. Graubard (in Lopes e
Rutherford) dá uma definição das perturbações comportamentais dos alunos em
que, com rigor, se evidencia o tipo e o grau de severidade de comportamentos de
um aluno seriamente perturbador: “Definem-se as incapacidades comportamentais
como sendo um tipo de comportamentos excessivos, crônicos e desviantes, que vão
desde os atos impulsivos e agressivos até aos atos depressivos e de
afastamento, que frustram as expectativas do receptor no que diz respeito
àquilo que considera ser adequado e que o receptor quer ver eliminados.”
No DSM-III-R os comportamentos perturbadores são
definidos do seguinte modo:
“Esta sub-classe de distúrbios é caracterizada pelo
comportamento social perturbador, o qual é frequentemente mais penoso para os
outros do que para a pessoa que exibe o distúrbio. … Constitui-se num padrão de
conduta persistente, que viola os direitos básicos dos outros e as principais
normas ou regras da sociedade apropriadas para a idade”.
Com naturalidade, não se procura que o papel dos
professores passe pela definição psicopatológica da criança com perturbações de
desenvolvimento, até porque, nos casos em que tal se verifique, a solução passa
sempre pelo pedido de ajuda dum técnico especializado. E, felizmente, a maioria
dos comportamentos perturbadores nas aulas não estão diretamente ligados a
padrões alterados de desenvolvimento.
A verdadeira questão é que, alunos que apresentam
com frequência comportamentos disruptivos são, habitualmente, mais difíceis,
obrigam a um maior dispêndio de tempo e energias e, com vasta frequência,
tornam o papel educativo do professor mais frustrante.
Podemos, com muita razão e legitimidade,
referirmo-nos à demissão por parte de muitas famílias, a políticas educativas
menos corretas, entre outras questões que prejudicam a atividade letiva direta
ou indiretamente. No entanto, o papel do professor é (e será) extremamente
importante na forma como uma aula é gerida e influencia, de modo decisivo, o
comportamento dos alunos.
O papel do professor na
prevenção de comportamentos disruptivos
Mais do que teorizar sobre as razões dos problemas
de comportamento, importa falar sobre o papel do professor para, numa primeira
instância, prevenir comportamentos disruptivos e, quando não possível, em
modificar a conduta dos alunos.
Se o papel do professor sempre esteve confinado à
transmissão de conhecimentos, verificou-se uma necessidade de evoluir e,
atualmente, além desse papel, vê-se impelido a ser um gestor de sala de aula,
um organizador da aprendizagem e, além das competências didáticas inerentes à
matéria que leciona, deverá ser portador dum rol de competências relacionais
que lhe permitam de modo eficaz fazer face aos desafios com que se depara.
Diferentes estudos e autores defendem que as
habilidades dos professores favorecem de modo preponderante o aumento de
interações positivas dos alunos. Deste modo, ao iniciar-se um novo ano letivo,
a grande questão que se coloca em termos educativos está em saber que tipo de
grupo uma turma se virá a tornar. E aí, o professor, enquanto líder, pode
claramente exercer uma influência importante na definição do grupo. As turmas
podem percorrer toda a escala, desde um grupo de indivíduos egocêntricos, até
um grupo com funcionamento harmonioso, em que cada indivíduo só o pode ser
enquanto membro do grupo. O objetivo é que seja o professor a definir a
atmosfera da sala de aula e os objetivos educacionais com base nas suas
necessidades, ao invés de ser a turma a definir o papel do professor.
O modo como o professor utiliza determinados
conceitos e ferramentas pode ajudar significativamente a promover o
desenvolvimento do grupo como um todo, e o individual, através da educação.
Interação professor
aluno/diferentes estilos de gestão da sala de aula por parte do professor.
Na gestão da sala de aula, o professor é o líder
formal do grupo-turma (Estanqueiro, A. 2010). Esta qualidade de liderança
depende muito das qualidades pessoais do professor e, essencialmente, do estilo
de relação que adota na relação com os alunos.
Tendo em vista o contexto em que nos centramos
(1ºCEB), temos que ter sempre em conta que, quanto mais novo é o grupo de
crianças, mais decisiva é a componente relacional. Para aprender, as crianças
precisam gostar de quem lhes transmite a informação.
A investigação (Amado, 2001; Maya, 200; Carita,
19923; Freira, 1990; inAmado & Freire, 2002) revela que os
alunos esperam que os professores atuem com autoridade e poder dentro da sala
de aula. O grande problema que se verifica é na gestão equilibrada dos poderes
e na queda nos extremos (autoritarismo e permissividade).
Estilos de gestão de
sala de aula:
Autoritarismo: este modo de ensino é,
de certo modo, caracterizado como um abuso da autoridade, pela rigidez,
agressividade, repressão e prepotência. As atitudes do autoritário são de
vigilância constante e de distanciamento afetivo. Estes professores, com
frequência, desencorajam as discussões e os trabalhos de pesquisa, exigem
obediência estrita, castigam frequentemente e raramente elogiam;
Permissivo: o professor permissivo cria
muitas situações de perfeito descontrolo na aula. Permite que os alunos se
sintam perfeitamente à vontade, as suas decisões têm como centro de
preocupações o bem-estar acadêmico dos alunos mais do que as preocupações
acadêmicas;
Indiferente: característica dos
professores desmotivados, que gerem a aula numa rotina diária, procurando ser o
menos incomodados possível. Aulas pouco interessantes, em que pouco ou nada de
interessante ocorre;
Assertivo: professor que se sabe fazer
respeitar, começando por respeitar os alunos. Acredita neles e confere-lhes
responsabilidades, censura e admoesta recordando a regra, tem em conta os
comportamentos e não a pessoa. É aquele que sabe elogiar quando devido, mas que
consegue castigar caso necessário, desde que a punição obedeça aos princípios
da razoabilidade, adequação e consistência.
Competências
de gestão da sala de aula para prevenção da indisciplina
No que respeita à gestão da sala de aula para
prevenção da indisciplina, distinguem-se, do ponto de vista temporal,
diferentes estratégias que serão aqui tratadas, nomeadamente:
1- Estratégias de início de ano letivo;
2- Estratégias para o início da aula;
3- Estratégias de vigilância e controle
dos comportamentos;
4- Estratégias de manutenção da
motivação dos alunos.
1- Estratégias de início
de ano letivo
O primeiro encontro entre o professor e os alunos é
fundamental para deixar uma imagem positiva, não existindo uma segunda
oportunidade para deixar uma primeira impressão. Nesse sentido, deixam-se
algumas ideias para esse momento:
- No
início do ano letivo, verifica-se a necessidade de transmitir uma imagem de
autoridade, organização, usando e abusando de atitudes de firmeza e segurança,
consistência, e uma intervenção pronta face à ocorrência de comportamentos de
indisciplina. Não sendo apologistas da expressão “não sorrir até ao Natal”, o
recomendado passa pela recepção ao aluno de um modo caloroso, mas formal.
- Procurar
adquirir informação sobre o grupo para, o mais depressa possível, tratá-los
pelo nome.
- Elaboração
da planta da sala, de modo a facilitar a organização dos alunos, bem como a
identificação por parte do professor;
- Estabelecimento
de regras claras que regulem diversos aspectos do quotidiano da sala (como são
exemplo o modo de participar na sala; deslocações pela mesma; comunicar com o
professor e com os colegas; organização da sala; entre diversos outros aspectos
que os professores considerem fundamentais).
Regras das Regras
Regras de conduta para o estabelecimento das regras
da sala de aula:
1- As
regras devem ser simples, claras, positivas e funcionais. Por exemplo, a regra
“não falar para o lado”, é impossível de ser cumprida, o que acaba por minar a
credibilidade do professor que, ao fornecer uma regra que não se pode cumprir,
transmite subliminarmente a mensagem de que não é só aquela, como provavelmente
muitas das suas regras, não são para cumprir;
2- Os
alunos, além de compreenderem as regras, devem compreender e aceitar a sua
necessidade;
3- Sempre
que possível, as regras fundamentais deverão ser explicitadas e explicadas no
primeiro dia de aulas. Curiosamente, ao contrário do que é costume pensar, as
crianças preferem professores que são claros no esclarecimento de regras e
firmes no seu cumprimento;
4- As
regras, uma vez estabelecidas, deverão ser cumpridas – esta é uma área em que
professores eficazes e ineficazes apresentam diferenças vincadas;
5- Sempre
que possível, o envolvimento da turma na definição das regras resultará,
certamente, numa melhor aceitação das mesmas. Ao contrário do que se possa
pensar, a negociação com os alunos não representa perda de autoridade por parte
do professor. Quando os alunos são convidados a participar nas atividades,
sentem-se mais empenhados em cumpri-las;
6- As
regras deverão ser sempre enunciadas pela positiva (enunciar o comportamento a
realizar, ao invés do que não se deve realizar; ex.: “entrar devagar na sala de
aula” ao contrário de “não entrar correndo”).
- Privilegiar
atividades em que se trabalhe com o grupo no seu todo permite uma mais rápida
aprendizagem dos comportamentos e procedimentos desejados pelo professor, ao
invés de subgrupos;
- Manifestar
expectativas positivas em relação ao comportamento e aproveitamento de todos os
alunos.
2- Estratégias para o
início da aula
Torna-se necessário que o professor imponha e
lidere o ritmo e a ordem do início da aula. Nesse sentido, importa que:
- O
professor deve estimular a entrada dos alunos na sala, estando atento à mesma
(não escrever no quadro ou realizar outras tarefas). A entrada e saída de
alunos da sala de aula deve obedecer a regras claras).
- Existir
um momento específico (rotina) que marca o início da aula – o sumário é um
ótimo exemplo, mas pode ser outro à medida do professor e da turma.
3- Estratégias de
vigilância e controle dos comportamentos
- Scaning visual; Trata-se
duma competência fundamental para o controle dos acontecimentos na sala de
aula. Consiste em que o professor, através do olhar, evidencie de modo
sistemático a sua presença e o seu nível de consciência quanto à marcha dos
acontecimentos. Permite ao adulto prever o rumo dos acontecimentos,
nomeadamente aqueles que podem perturbar a aula, conseguindo antecipar-se-lhes,
evitando a sua instauração. Se utilizado sistematicamente, possibilita que os
próprios alunos percebam que o professor está a par do que eles estão a
realizar;
- Movimento
em sala de aula; Complementam a ação do “scanningvisual”, uma
vez que faz com que os alunos sintam uma maior presença do professor se este
tiver uma componente visual e uma componente de proximidade física. Além de
permitir que o professor veja comportamentos impossíveis de observar quando
junto ao quadro, o fato de poder estar nas costas dos alunos (fora do seu campo
de visão) é fortemente inibitório de comportamentos fora da tarefa;
- Sistema
de sinais (marcadores); Dentro da dinâmica de sala de aula, o
professor pode utilizar um conjunto de “sinais” que servem para organizar e
sinalizar o rumo das atividades da sala, bem como para advertir um aluno ou
grupo. Um conjunto de sinais que permita uma comunicação rápida e fácil, que
possa transmitir às crianças quando é o momento de falar, de fazerem silêncio,
de participar (entre outros exemplos), devem fazer parte das rotinas de sala,
as quais, com um mínimo dispêndio de tempo, permitem um máximo de eficácia de
acção;
Separar alunos mais perturbadores, bem como
procurar que não estejam distantes do professor.
4- Estratégias de
manutenção da motivação dos alunos
- Realizar
uma frequente monitorização do trabalho dos alunos, através da observação do
modo como executam as tarefas propostas, dando apoio para superarem
dificuldades, feedback, entre outros;
- Estimular
o interesse dos alunos, mandando-os ao quadro, colocando questões de forma
aleatória, procurando distribuir a atenção por todos;
- Variar
as estratégias de ensino/aprendizagem, utilizando material audiovisual, ou
outras técnicas de suporte visual; atividades experimentais; trabalhos de
pesquisa; trabalhos de grupo; entre outros;
- Dar
vivacidade à aula e evitar discursos monótonos. Transmitir motivação, procurar
manter um ritmo de aula adequado, procurando evitar abrandamentos no fluir das
atividades, mas com transições suaves entre estas;
- Ter
as crianças ocupadas e procurar minimizar tempos mortos. Ajuda:
- Atribuir tarefas adicionais aos alunos mais
rápidos;
- Retomar rapidamente o curso da aula no caso de
interrupção;
- Evitar usar o quadro por períodos de tempo muito
prolongados;
- Iniciar as atividades imediatamente após ter dado
instruções (fornecer sempre instruções claras sobre a tarefa a realizar, para
que os alunos se inteirem do que se pretende e espera que façam).
- Certificar-se
sempre que os alunos concluíram a tarefa a realizar antes de transitar para a
seguinte. Se necessário, aguarde que a conclua;
- Sistema
de cargos. Atribuir tarefas concretas e responsabilidades ajudam a incentivar a
participação dos alunos, aumentando a sua motivação e interesse. É
especialmente útil para as crianças mais problemáticas, pois pode permitir que
se sintam mais capazes e parte do processo da aula e, determinados cargos que
obrigam a uma maior mobilidade dentro da sala, pode permitir controlar quem tem
maiores dificuldades em ficar imobilizado por longos períodos de tempo. Ex. de
cargos na sala de aula:
- Responsável pela distribuição de material;
- Responsável pela arrumação dos livros;
- Encarregado da saída e entrada nas aulas;
- Entre outros diferentes momentos ou tarefas
comuns na sala de aula.
- Utilizar
uma linguagem clara e acessível;
- Enquadrar
os conteúdos fazendo a ponte com conhecimentos anteriores dos alunos e fazer
uso das suas sugestões/contributos positivos para a aula;
- Explicitar
o interesse e a ligação das matérias lecionadas a nível da ligação com a
realidade fora da escola, e a sua relevância para o futuro dos alunos.
Estratégias
de mudança de comportamento
- Reforço
social positivo:
“Ato que consiste em dar a um indivíduo uma
resposta socialmente recompensadora (consequência positiva) após a ocorrência
do comportamento, o que faz com que a frequência deste tenda a aumentar” (
Lopes & Rutheford, 2001). Ao falarmos de reforços sociais referimo-nos ao
elogio, à atenção positiva e ao feedback positivo.
São exemplos:
. Um sorriso;
. Um bom marcado num exercício;
. Expressões como “bom trabalho” ou “estou muito
orgulhoso do teu trabalho”;
. Um toque afetuoso no ombro ou costas do aluno;
. Um comentário sobre um comportamento correto do
aluno, como por exemplo (entrou muito bem na sala de aula);
. Expor publicamente o trabalho da criança;
. Utilizar algum distintivo como prêmio (reforço
simbólico);
. Falar com os pais, valorizando os seus trabalhos
e qualidades;
. Ser o primeiro a ir para o recreio;
. Elogiar o trabalho de uma das crianças com
dificuldades, a fim de estimular as restantes;
. Escrever comentários nos trabalhos das crianças;
. Comentários positivos sempre que possível;
. Conversar agradavelmente com as crianças;
. Dedicar especial atenção a uma criança em
particular sempre que se mostre oportuno;
. Permitir que a criança exiba o seu trabalho para
o grupo.
Aqui vem o conceito de igualdade, que também passa
pela diferença de comportamento. Sabemos bem que, determinados alunos precisam
de mais reforços sociais que outros, especialmente quando estes salientam
comportamentos positivos dos mesmos. Esses reforços fazem a criança sentir-se
notada pelo professor, e podem prevenir que as crianças se façam notar pelos
mesmos de forma disruptiva.
Importante: Refletir sobre como é muito
mais fácil para nós adultos salientarmos (ou chamarmos à atenção) as crianças
pelos comportamentos negativos que apresentam, ao invés dos positivos.
Linhas de orientação
para utilizar de modo mais eficaz o reforço social:
1- O reforço deve registar-se imediatamente ao
comportamento positivo. Quanto mais depressa se recompensar o aluno
pelo comportamento adequado, mais eficaz é o reforço. A criança deve saber
imediatamente qual a sua ação que foi considerada correta pelo professor, e
qual em concreto. Evitar prestar atenção ao aluno quando ele está
se comportando mal.
2- O reforço deve ser individual. O que funciona
com uns, não funciona com outros. Alguns gostam de elogios “para o grupo”,
outros de receber “uma estrelinha”, outros não gostam da palmada nas costas.
Cabe ao professor analisar o que funciona melhor. No entanto, o que funciona
hoje, mais tarde poderá não funcionar, necessitando-se promover a mudança e a
novidade.
3- Quantidade de reforço. No início reforça-se
insistentemente, mesmo que se pense que “o aluno já deveria se comportar como
tal”. Aqui não funciona a máxima “só faz o seu dever”. À medida que o aluno se
for aproximando dos padrões exigíveis, é preferível que o comportamento passe a
ser reforçado de modo intermitente, para evitar o efeito de saciação. Em
teoria, um comportamento reforçado intermitentemente, a intervalos variáveis e
em montantes variáveis, resiste fortemente à retirada do estímulo. No pólo
oposto, um comportamento reforçado constantemente a intervalos fixos,
normalmente extingue-se rapidamente quando o mesmo é retirado. Daí que a
importância da máxima: reforçar continuamente no início.
4- Os
reforços devem ser equiparados às respostas das crianças (não se põe dar um
grande reforço a uma resposta pequena);
5- Mais que o resultado final, reforçar as tentativas do
aluno para alcançar o efeito desejado. Normalmente os objetivos a que
nos propomos que a criança alcance são muito difíceis de alcançar de imediato,
tendo assim de ser moldado de forma correta. Ex: queremos que uma criança, ao
invés de gritar quando quer falar, levante o braço. Se ela gritar e levantar os
braços ao mesmo tempo, podemos reforçar o levantar os braços, e ignorar o
gritar.
6- Ignorar o comportamento inadequado. O comportamento
a eliminar pode, sempre que possível e, de acordo com a sensibilidade do
professor, ser ignorado sistematicamente. Em simultâneo, deve ser escolhido um
comportamento que se quer incrementar e reforçá-lo com elogios e atenção. De
certo modo, é como que estar atento aos pequenos momentos em que o aluno se
porta bem, e reforçá-lo. O que acontece frequentemente é que, através da
atenção que damos aos comportamentos negativos das crianças, estamos a
incentivar a sua repetição com maior frequência. Geralmente, para as crianças,
ter atenção negativa é melhor que não ter atenção nenhuma por parte do adulto
e, crianças frequentemente disruptivas possuem, com frequência, padrões de
comportamento negativos.
Atenção
– esta estratégia tem de ser realizada durante um período prolongado
de tempo e, com coerência, para se encontrarem resultados.
- Contratos
comportamentais:
Um contrato comportamental é um acordo entre duas
ou mais pessoas, estipulando as suas responsabilidades, tanto no que diz
respeito a um determinado comportamento, como ao reforço pela sua realização.
(Lopes & Rutheford, 2001).
A vantagem principal deste método resulta do fato
dos alunos se constituírem e percepcionarem como parte integrante de um
processo de negociação em que participam, assumindo por isso um compromisso
fundamental com os outros e consigo próprios.
Linhas básicas de orientação dum contrato
comportamental:
·
O contrato comportamental só pode funcionar
implicando uma conversa e discussão dos problemas em que ambas as partes estão
envolvidas (aluno e professor) e estabelecem os parâmetros do contrato.
Negociados podem ser também o número e o nível do (s) comportamento (s), bem
como as suas consequências ou recompensas.
·
O contrato deve ser um documento formal e
escrito, especificando todas as responsabilidades e privilégios das partes
envolvidas;
·
Os termos do contrato devem ser positivos e
claros;
·
Procurar mudar um comportamento específico de
cada vez;
·
O contrato deve recompensar a realização de um
comportamento, não a obediência à figura de autoridade (sob pena de o
comportamento apenas se verificar perante a figura de autoridade);
·
A recompensa deve seguir-se imediatamente à
realização do comportamento contratado;
·
Os termos do contrato devem ser justos,
realistas e satisfatórios para ambas as partes.
- Sistema
de créditos:
O sistema de créditos é um modo mais elaborado de
utilizar o reforço na aula. Consiste em entregar ao aluno um determinado número
de créditos, tão próximo possível quanto a realização de um comportamento
desejado. Os créditos são uma espécie de pontuação que se vai acumulando,
sendo, mais tarde, trocados pelo estímulo de reforço (quase como uma moeda de
troca).
Tem uma dupla vantagem. Se, por um lado permite ao
professor reforçar os comportamentos positivos com uma grande proximidade
temporal (estrelas por exemplo), mantendo uma taxa elevada de respostas
diárias, por outro ensina o adiamento da gratificação (reforço estipulado),
conseguindo aliar a intermitência da recompensa com a imediata. Além de
possibilitar uma maior adesão e motivação por parte da criança, esta combinação
de estímulos permite que o comportamento resista mais fortemente à extinção
após a retirada do reforço.
Um erro muito comum ao “prometer” uma recompensa a
longo prazo é assim ultrapassado pela atribuição das estrelinhas e do acumular
para uma recompensa a receber posteriormente.
Este sistema pode ser utilizado com toda a turma,
com um grupo ou com um só aluno perturbador.
Tem linhas orientadoras específicas às quais o
adulto deve atender:
1º Os comportamentos a reforçar devem
constar de um contrato preferencialmente escrito (apesar de poder ser oral).
Esta é uma estratégia que deve estar ligada e ser coerente com as regras da
sala. Os comportamentos devem possuir uma definição comportamental clara para a
criança;
2º Os créditos devem ser distribuídos
logo após a ocorrência do comportamento. Quando não for possível de imediato, o
mais próximo possível do comportamento desejado;
3º Deve estabelecer-se um número
específico de reforços de apoio (prêmios) que equivalerão aos créditos que as
crianças possam obter. De certo modo, como que os poderão comprar. O custo de
tal deve estar estabelecido e ser do conhecimento do aluno;
4º É necessário determinar um momento
específico para trocar os créditos pelos reforços de apoio. Tal pode ser
estabelecido numa base temporal (ao fim da semana, dia) ou em função da
concretização de determinados objetivos (ex: atingir 100 estrelas);
5º Convêm que o sistema seja realizado
de forma fácil e prática de gerir pelos professores, mas também que seja
cativante e apelativa para os alunos.
Ex. Dê prêmios que podem ser trocados por créditos:
escolha de jogos ou atividades; liderar atividades ou determinados momentos da
dinâmica da sala; tempo livre para realizar atividades do agrado das crianças;
pequenas guloseimas; tomar conta da turma; utilizar o retroprojetor; fazer
recados para o professor; ser o primeiro da fila; planear a rotina dum dia;
entre outras.
- Punição:
A questão da punição é sem dúvida uma das que
maiores críticas e questões tem colocado nos últimos tempos a nível educativo.
No entanto, parece-nos impossível que não seja aplicada em contexto educativo
e, mesmo quem não a defenda, muito provavelmente a aplicará sem dar por isso.
Procuraremos, neste espaço, analisar algumas das
vantagens e desvantagens desta ferramenta.
É, sem dúvida, uma estratégia útil para fazer face
a comportamentos perturbadores de menor importância, sobretudo aqueles que são
motivados pelo desejo de chamar a atenção do professor (Campos, B. P., 1997).
Pode-se definir como a utilização dum estímulo que causa aversão, aplicado
depois dum comportamento considerado inadequado, visando a extinção do mesmo. É
utilizada porque diminui de forma imediata o comportamento-alvo, resultando a
curto-prazo, mas necessita ser trabalhada com outras estratégias (anteriormente
referidas) para poder provocar mudança comportamental.
Estudos demonstram que facilmente a criança aprende
qual o comportamento que não deve realizar mas, mais dificilmente consegue
saber qual o correto para evitar as punições (Luís Joyce-Moniz, 1998), daí que,
quando não utilizada da melhor maneira (ou quando é a única utilizada) corre o
risco de provocar reações secundárias negativas, como são exemplo:
* Fortes reações emocionais que dificultam novas
aprendizagens;
* Reações de evitamento dos alunos à escola, que
fica conotada como um ambiente de punição;
* Gerar agressividade dos alunos face aos
responsáveis pela sua punição;
* O professor funcionar como um modelo de agressão,
a ser copiado pelos alunos.
No entanto, é uma estratégia com o seu valor e,
como acima referido, importante na diminuição imediata do comportamento
disruptivo. Para ser utilizada de forma eficaz, é importante que o professore
siga algumas regras:
- A criança terá que ter sempre a possibilidade de
ser colocado numa posição em que não é punido, procurando-se que existam
estímulos que procurem aproximar a criança do comportamento desejado, servindo
a punição como inibidor do comportamento indesejado;
- Os princípios gerais do condicionamento operante
devem ser respeitados, nomeadamente: a frequência da punição tem de ser alta
(de preferência uma estimulação aversiva para cada resposta a eliminar); o
estímulo punitivo deve ser aplicado o mais próximo da resposta a eliminar; por
fim, deve evitar-se a administração prolongada da punição. Uma criança
habituada a um castigo torna-o um hábito, não uma punição;
- A punição também não deve ser um estímulo mais
recompensador do que o reforço positivo. Se a criança ganhar mais atenção com
esta, maior será a tendência a repetir o comportamento a eliminar;
- Dirigir-se ao aluno mantendo o contato ocular;
- Falar de forma calma, firme e assertiva;
- Não ameaçar com castigos que não possam ser
praticados.
- A punição não deve ser excessivamente forte, de
modo a comprometer a relação aluno/professor. Paralelamente a esse risco,
punições em excesso podem levar ao evitamento do comportamento a eliminar
apenas na presença do professor (ou outro elemento de autoridade).
- Necessidade de separar muito bem o comportamento
incorreto a evitar e, de grande importância, indicar o comportamento correto
(ex. Luís, o comportamento correto devia ter sido entrar devagar e em silêncio
na sala).
- Quando a criança está de castigo, evitar que
estejam disponíveis fatores de distração, que impeçam a punição de ser sentida
como tal.
- A punição nunca poderá servir para humilhar o
aluno, ou contribuir para que seja conotado com rótulos difíceis de serem
eliminados (como são exemplo: “nunca pára quieto”; “só faz asneira”; “é sempre
a mesma coisa”).
- As repreensões fazem sentido quando o aluno
precisa, e não quando o professor perde o autodomínio. Por vezes, perante um
comportamento indisciplinado, o professor ganha se esperar uns segundos antes
de agir. Ficar quieto, a olhar o aluno nos olhos, em silêncio, é uma reação que
frequentemente desarma alunos habituados a reações impulsivas (Estanqueiro,
2010).
Importante – Por vezes, a disciplina
não é possível de definir apenas dentro da sala de aula. Em casos mais difíceis,
importa que o professor nãos e feche dentro da sua sala, e apresentem queixa
junto dos diretores de escola, professores titulares. Um aluno, quando se porta
mal, deve ser responsabilizado e sofrer as consequências dos seus atos. As
crianças levam a um pedido de desculpa e, sempre que possível, os castigos
devem possibilitar a reparação do seu ato (ex: limpar o que sujou; arrumar o
que desarrumou; entre outros).
No mesmo sentido, uma boa comunicação entre a
escola e a família, traduzida na conjugação de esforços, favorece a motivação
dos alunos e ajuda a prevenir ou resolver alguns problemas de indisciplina
(nunca desistir dos pais).
Abordagem
positiva na educação
Com um enorme grau de importância, salienta-se a
necessidade de estabelecer relações interpessoais positivas com as crianças.
Tal implica disponibilidade afetiva para ouvir os alunos, para nos aproximarmos
das crianças, ser afetuoso, empáticos, confiantes, protetores, termos sentido
de humor, respeitar o aluno e a sua individualidade, sermos calmos na abordagem
dos problemas, nunca humilhar as crianças, sempre com a firmeza necessária para
fazer cumprir as decisões tomadas.
Uma abordagem otimista
no desenvolvimento da criança
Ainda recente no campo da Psicologia, a Psicologia
Positiva caracteriza-se pelo enfoque nas qualidades do ser humano, bem como no
que faz a vida merecer ser vivida e o que podemos melhorar. Deste modo, esta
corrente procura quebrar a tonalidade negativa atribuída pela Psicologia, muito
centrada na patologia e nos problemas, e focar-se, de forma teórica e empírica,
na construção de condições que conduzam a uma melhor qualidade de vida, à
procura da felicidade por parte do sujeito.
A Psicologia Positiva não possui o intuito de
desvalorizar ou descredibilizar o anteriormente realizado a nível da
Psicologia, nem a importância do atingido, que deve ser sempre preservado e
valorizado. Pretende sim, de certo modo, salientar que, durante o
desenvolvimento da Psicologia enquanto ciência, não foi priorizado o estudo da
felicidade do ser humano. O que é que nos faz ser mais felizes? Como podemos
incrementar os nossos níveis de felicidade? Visto estar provado que a ausência
de doença, só por si, não resulta automaticamente em felicidade ou bem-estar
(Marujo, H., Neto, L., Caetano, A., & Rivero, C., 2007), a questão da
felicidade e do bem-estar humano têm de ser obrigatoriamente aspectos alvo de
estudo da Psicologia.
Ao efetuar uma reflexão sobre a importância duma abordagem otimista no desenvolvimento da criança, importa pensar sobre o que é o otimismo. Segundo os autores anteriormente referidos, o "otimismo é uma característica individual que, embora possa ter algumas influências genéticas, pode ser aprendida e implica sempre a capacidade de ter expectativas positivas acerca do futuro e acreditar que o que está para vir é bom. Isto para além da capacidade de ver o melhor da vida. Mesmo nas situações mais problemáticas, desafiadoras e, até, dramáticas, o otimismo traduz-se na capacidade de retirar alguma aprendizagem e algum ponto positivo". Das vivências diárias e daquelas mais significativas ou marcantes, concluí-se que o que diferencia os otimistas dos pessimistas não passa pelo número de boas ou más experiências ao longo da vida, mas sim pelo modo como as percepcionam e interpretam.
Esta nova forma de interpretar a realidade (otimista) faz ainda mais sentido em contexto educativo, quer seja em casa, numa escola, num Jardim de Infância, ou outros locais em que se privilegie o papel de educador, tanto mais que se comprova que o otimismo tem repercussões diretas nos níveis de felicidade, da saúde física e mental ao longo da vida, e até mesmo nos níveis de produtividade.
Atendendo ao anteriormente referido pede-se, em primeiro lugar, que quem se relaciona diretamente com crianças compreenda e assuma a importância que terá no seu futuro, pois são os modelos de referência, a quem as crianças recorrerão na procura de modos de compreender e agir sobre a realidade em que se inserem. Temos de nos consciencializar que somos os principais agentes de socialização das crianças e que, consequentemente, as nossas atitudes para com elas são determinantes para o seu desenvolvimento harmonioso. É nos pequenos momentos, nos pormenores, que a criança assimila os nossos exemplos, os nossos ensinamentos. A expressão: "Faz o que digo, não faças o que faço", não tem valor num contexto educativo, pois será pelas nossas ações que a criança se guiará.
A importância dos modelos de referência
"caseiros" é demonstrada através de estudos (Marujo, H.; Neto, L.
& Perloiro, M., 2000) que comprovam que os diferentes membros de uma
família tendem a ter níveis semelhantes de pessimismo ou de otimismo. Tal
revela-nos que aprendemos a ser otimistas com aqueles que nos são próximos, e
coloca às famílias (e também às diferentes instituições e profissionais que com
crianças trabalham) o desafio (e responsabilidade) no sentido de procurarem
fomentar o desenvolvimento de crianças positivas.
A consciência do peso das nossas ações no
desenvolvimento das nossas crianças, exige uma reflexão sobre a forma como
vivemos a nossa felicidade, como encaramos as adversidades e as transmitimos às
crianças. Esta introspecção pode, e deve, ser realizada ao longo de todo o
nosso processo de interação com as crianças.
Como educar para o otimismo?
Não existe uma fórmula que nos transforme em
otimistas. Todos os momentos da nossa vida podem ser encarados e avaliados de
diferentes perspectivas, que podem ser mais ou menos otimistas. O povo
português é caracterizado pela ideia da desgraça, do futuro sombrio, em que só
nesse estado encontramos conforto (sentimento de excelência do Fado). Não
querendo incorrer no erro de catalogar o povo português, não se torna difícil
encontrar provas do negativismo endêmico à nossa sociedade, bastando para tal
ver o telejornal, e realizar uma comparação entre o número de boas e as más
notícias. De certo modo, por vezes, surge o sentimento que a tragédia une as
pessoas, e que é errado ser feliz e demonstrar esse estado de espírito. E essa
é uma mensagem que frequentemente é transmitida às nossas crianças, a de que em
criança é natural ser feliz, rir, mas que ao crescer, tudo muda. E é
precisamente por aí que podemos iniciar uma mudança, começando por cada um de
nós, agentes educativos.
Esta "revolução" tem de ocorrer, e é em
casa e nos estabelecimentos educativos que ela deve começar. É reconhecido que
ao salientarmos um traço, existe uma maior probabilidade de o repetir. Ao
observarmos adultos em interação com crianças, verifica-se a frequência com que
são destacados aspectos negativos, repreensões, em comparação com os elogios
aos bons comportamentos. Nós, adultos, não o realizamos por malícia, ou por
desejar o mal para os nossos filhos. O que se verifica com frequência é que
repetimos nas nossas crianças os modelos educativos que nos foram transmitidos,
que vastas vezes não primavam pelo uso do elogio. No entanto, esses padrões
educativos podem ser alterados, especialmente ao termos consciência das nossas
ações e do impacto que possuem no desenvolvimento da criança. Cabe-nos a nós,
adultos, realizarmos uma auto-reflexão das nossas interações com as crianças, e
analisar o feed-back que lhes transmitimos.
Ao termos o objetivo de aumentar o número de
comportamentos positivos por parte duma criança, será através do elogio, do
carinho no momento certo, que o atingimos. Nestas situações verifica-se a regra
do que é salientado tende a repetir-se. Uma criança, ao efetuar um
comportamento desejável, se obtiver a atenção positiva, uma recompensa (elogio,
miminho, incentivo, não se trata de recompensa material), terá maior tendência
a repetir esse comportamento no futuro. Se, no sentido inverso, atribuirmos
atenção (mesmo que negativa) à criança quando tem comportamentos incorretos,
repreendendo-a, enquanto que não a estimulamos ao realizar uma atitude correta,
pois partimos do princípio que faz apenas o que é seu dever, estamos a
estimular o comportamento indesejável. As crianças querem/necessitam de atenção
e, se não a obtiverem através de comportamentos positivos, vão requere-la com
comportamentos indesejáveis.
É claro que não se pede que se deixe de repreender
as crianças quando existe essa necessidade, não é esse o propósito. Ao longo do
seu desenvolvimento, é fundamental que a criança explore o seu mundo, e isso
implica que os adultos necessitem colocar limites aos seus filhos. Essa
curiosidade e interesse são saudáveis por parte das crianças, mas o papel dos
adultos passa por promover a sua socialização, o que leva a por limitar a sua
exploração quando necessário. Um dos papéis do educador passa por transmitir e
ensinar o que a criança pode ou não realizar, incutindo-lhe regras e limites
essenciais para o seu desenvolvimento e segurança. O que se pretende é que,
além do referido, se estimule a criança pelos bons movimentos que realiza. O elogio,
o incentivo, a confiança que lhes fornecemos são ferramentas que ela
interioriza, e que lhe ajudam a sentir confiança em si para explorar o mundo, e
para resolver os problemas de forma autônoma, confiando em si, nos seus
recursos, e nas pessoas que lhe são significativas.
Ao longo da nossa convivência com as crianças, por
vezes tendemos a esquecer que são crianças, e que possuem uma capacidade de
entendimento distante da dos adultos. Também assim o é no modo como lidam com
os elogios como com as críticas. Ao realizarmos uma crítica a um adulto, ele
poderá ter a capacidade de analisar o que lhe foi comunicado, e ajustar o seu
comportamento de modo a evitar essa punição. Contudo, este processo mental
poderá ser muito complexo para uma criança e, até certas idades, impossível de
realizar. Ou seja, para uma criança que recebeu uma crítica, poderá ser muito
difícil alterar e ajustar o seu comportamento, pois ainda não possui a
maturidade cognitiva que lhe permita compreender que, para evitar receber a repreensão,
tem de mudar o comportamento "X" pelo "Y". No momento de
repreender, pede-se paciência aos educadores, cujo papel não poderá passar
apenas pela crítica, mas igualmente pelo ensinar à criança o modo correto de
agir, mostrando sempre a esperança de que na próxima vez a criança será bem
sucedida.
Esta dificuldade cognitiva em ajustar o
comportamento a quando de uma crítica, não se verifica no momento em que recebe
um elogio por um bom comportamento. Nesse caso, trata-se de um processo
cognitivo mais elementar, em que apenas realiza uma associação direta entre o
comportamento realizado e a atenção positiva recebida. Por aí passa
frequentemente o sucesso na mudança de comportamento das crianças, o salientar
os aspectos positivos, de forma a tornarem-se mais frequentes, e a não
atribuição de atenção às pequenas atitudes negativas, procurando que ocorram
com menos frequência. Quando não é possível desvalorizar, e a repreensão
torna-se necessária, importa explicar à criança o que fez de forma incorreta,
instruindo-a sobre o procedimento desejado e, claro, mostrar-lhe que sabemos
que ela conseguirá ser bem sucedida no futuro.
É importante focar uma pequena nota no que se refere às repreensões e aos castigos. Quando o adulto se depara com a necessidade de repreender uma criança, o seu propósito não é vingar-se ou fazer mal à criança. O objetivo é sempre o de alterar o comportamento, que a criança tenha consciência de que o que realizou é incorreto, e que esperamos no futuro que altere o comportamento específico que o levou à repreensão. Dessa forma, ao falarmos com a criança, devemos evitar expressões como o "És sempre assim", "Nunca fazes nada bem", entre outras. O mal de expressões como as referidas (entre outras) é que, além de não comunicarmos à criança qual o comportamento que consideramos incorreto, não lhe transmitimos a esperança de o poder alterar, qualificamo-la de forma negativa, estamos a prejudicar a autoconfiança e a obstaculizar um sucesso futuro. Quanto ao comportamento em questão, é importante referir, de forma clara, o que desaprovamos, pois é o que queremos modificar e, de forma construtiva e otimista, comunicar-lhe o que esperamos dela, delegando-lhe a responsabilidade de confiarmos que, no futuro, conseguirá realizar o comportamento desejado. Expressões como as referidas anteriormente (sempre e nunca) funcionam mais como uma avaliação geral à criança, ao invés de focar o comportamento específico, aquele que realmente queremos alterar.
Otimismo ou fuga aos problemas?
Esta perspectiva de encarar o papel educativo e, em
geral, a vida não implica a negação e a desvalorização dos problemas e
dificuldades que surgem. O que incentiva e estimula é uma perspectiva
construtiva, centrada na procura de soluções para os mesmos. Nesses aspectos, a
dinâmica dentro duma sala de aula possui uma importância vital no
desenvolvimento acadêmico duma criança, e na construção do seu auto-conceito
acadêmico. É nos “pequenos” momentos, nas “pequenas” verbalizações que tão
irrefletidamente desvalorizamos que podemos realizar a diferença.
Nos diálogos importa valorizar as qualidades da criança (e dos adultos), apreciar os seus esforços, e transmitir a confiança de que podem/conseguem ultrapassar os problemas com que se deparam, pois têm esse potencial. Procurem adotar na sala de aula um poder democrático, em que todos possuem opiniões válidas e interessantes, e com o qual é possível estimular a troca de ideias, mesmo que opostas, promovendo a aceitação e o diálogo numa perspectiva de procura de soluções, ao invés da passividade e pessimismo.
Cabe-nos a nós questionarmo-nos sobre as coisas boas da nossa vida, e fazê-lo com as crianças. Tão frequentemente, ao falarmos entre nós, de imediato fazemos referências ao que de mau nos ocorre, e esquecemo-nos do quão bom é viver. Todos nós passamos por acontecimentos positivos e negativos, essa é uma realidade. A grande diferença encontra-se no modo como eles são vivenciados e explicados. Ao passo que um pessimista terá uma maior tendência em acreditar o acontecimento negativo como sua culpa, e a acreditar que "será sempre assim", e que "não há nada a fazer"; o otimista tenderá a justificar esse mesmo acontecimento como algo pontual, que aconteceu naquelas circunstâncias, mas acreditando que existe a possibilidade de solucioná-lo.
Deste modo, o que se expressa às nossas crianças
influencia-as muito precocemente. Por exemplo, uma criança que recebe uma nota
negativa, tenderá a pensar que é "burra", que não tem capacidades
para aprender, ou poderá acreditar que teve esta nota porque o teste foi
difícil, e começar a planear o que terá de realizar, para que, no próximo,
tenha uma boa nota. Estas "pequenas" diferenças têm implicações, quer
no futuro próximo (o modo como se implica no próximo teste), quer na idade
adulta. Cabe-nos a nós refletir sobre como queremos/podemos apetrechar as
nossas crianças, e que modelos queremos ser.
“A vida é como um cobertor demasiado pequeno.
Puxa-se para cima e fica-se com os pés de fora, sacudimo-lo para baixo e
ficamos a tremer de frio nos ombros; mas as pessoas bem dispostas conseguem
encolher os ombros e passar uma noite muito confortável."
Marion Howard
“Ensinar é um exercício de
imortalidade”
Ruben Alves, in Estanqueiro,
A. 2010
Bibliografia / Leituras Recomendadas
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Publicada por Psicólogo Bruno
Pereira Gomes
Fonte: http://aconversacompais.blogspot.com.br/2012/04/prevenir-e-lidar-com-indisciplina-em.html
Fonte: http://aconversacompais.blogspot.com.br/2012/04/prevenir-e-lidar-com-indisciplina-em.html